Notícias



Santa Casa de Araraquara tem prejuízo de quase R$ 3 milhões por mês

Dificuldade financeira foi apresentada pelo provedor, Jéferson Yashuda, em audiência pública da Câmara Municipal; renegociação de dívidas e ampliações de repasses federais e estaduais são esperadas pela entidade

4736


Com prejuízo mensal de quase R$ 3 milhões, a Santa Casa de Araraquara enfrenta situação financeira delicada e tem como maior desafio a realização de cirurgias eletivas (agendadas, que não são de urgência). As informações foram apresentadas em Audiência Pública da Câmara Municipal na tarde da segunda-feira (8).

Realizada após requerimento do vereador Edson Hel (Cidadania), a audiência teve presenças do provedor da Santa Casa, Jéferson Yashuda, e da secretária municipal de Saúde, Eliana Honain, que apresentaram um resumo dos trabalhos desde que a nova diretoria assumiu a instituição, em agosto do ano passado.

Yashuda explicou que, desde o início deste ano, R$ 1 milhão mensal está sendo descontado dos repasses do Ministério da Saúde para quitar empréstimos bancários que a diretoria anterior realizou. “A gente estava contratualizado com R$ 3,5 milhões e recebe R$ 2,5 milhões por mês, porque R$ 1 milhão é abatido na fonte, como se fosse um empréstimo consignado”, relatou.

De acordo com o provedor, a Santa Casa possui receita líquida mensal de R$ 5,3 milhões, formada por recursos do Ministério da Saúde, do programa “Mais Santas Casas” do Governo do Estado, da Universidade de Araraquara (Uniara) e de outras instituições privadas. Mas os gastos mensais ultrapassam R$ 8 milhões: são R$ 2 milhões por mês com a folha de pagamento dos 935 funcionários ativos e mais R$ 1,3 milhão com encargos da folha, além de R$ 2,3 milhões com equipes médicas e R$ 2,5 milhões para a compra de medicamentos e insumos. A Santa Casa é referência do Sistema Único de Saúde (SUS) para 24 municípios da região.

“O recurso que chega é bem utilizado, mas é insuficiente para as atividades e os serviços que a Santa Casa disponibiliza para a população. Contingenciamos tudo o que foi possível. Graças ao apoio da Prefeitura e a articulações políticas, estamos tendo um socorro nessas horas difíceis. Nunca deixamos de atender os pacientes emergenciais que estavam na Santa Casa, mas isso [dificuldade financeira] prejudicou a questão das cirurgias eletivas, que deixaram a desejar. Estamos realizando conversas para participar do mutirão federal [de cirurgias eletivas], pois já participamos do estadual”, explicou Yashuda.

 

Saída do Hapvida

O provedor informou que o corpo técnico da Santa Casa fez uma avaliação dos últimos anos para detectar a razão de a instituição ter sua situação financeira agravada. “Até 2018, a Santa Casa apresentava superávit. O plano de saúde São Francisco, hoje Hapvida, atuava na Santa Casa e gerava receita de até R$ 2 milhões por mês. De 2018 para 2019, a Santa Casa deixou de prestar atendimento a esse plano, que migrou para onde era a Beneficência Portuguesa [novo hospital do plano]”, destacou.

Em 2018, a Santa Casa realizou 30 mil atendimentos SUS (62%) e 19 mil privados (38%). Com a saída do plano, isso passou para 40 mil atendimentos SUS e 3 mil privados. “Impactou muito na receita. E a pandemia acarretou aumento do preço dos insumos, dos medicamentos, de luvas, de máscaras, de tudo o que você puder imaginar. A diretoria anterior teve de fazer empréstimos bancários para poder honrar essa disponibilidade maior de serviços da Santa Casa”, relatou.

Em relação à dívida total da entidade, o provedor destacou que os números se mantêm praticamente estabilizados em relação ao ano passado: por volta de R$ 90 milhões. Houve redução das dívidas bancárias de R$ 72 milhões para R$ 64 milhões, mas, em contrapartida, os débitos em atraso com fornecedores cresceram.

Mesmo com as dificuldades, Yashuda ainda informou que o Governo do Estado enviou R$ 2,5 milhões para investimento no acelerador linear de radioterapia, que deve duplicar a capacidade desse tratamento a partir de junho. Um equipamento de hemodinâmica, de R$ 2,7 milhões, também foi doado pelo Estado, o que tornará a Santa Casa um centro de referência em angioplastia e cateterismo.

 

Renegociações

A secretária Eliana Honain destacou que a intervenção realizada pela Prefeitura na gestão da Santa Casa, no ano passado, teve o objetivo de resgatar a assistência médica à população. Eliana ainda ressaltou que a Prefeitura contribui mensalmente com a instituição na compra de insumos e na garantia de recursos financeiros.

Eliana relatou recente visita ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília (DF), oportunidade em que a situação das Santas Casas foi abordada em reunião. As Santas Casas de todo o Brasil devem R$ 9 bilhões, sendo R$ 7 bilhões para a Caixa Econômica Federal.

“O ministro se comprometeu a tentar com a Caixa uma renegociação dessas dívidas, o que facilitaria muito a vida de todas as Santas Casas, incluindo a de Araraquara”, relatou. Outra reunião, desta vez com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, tratou da possibilidade de financiamento dessas dívidas, com carência de 18 meses e taxa de juros mais baixa que a do mercado.

O Município também pediu o incremento de R$ 1,2 milhão por mês no teto recebido por Araraquara para média e alta complexidade, o que já foi aprovado. Outra reivindicação feita pela Prefeitura foi o repasse de R$ 42 milhões para cobrir a diferença entre os serviços prestados e os recursos recebidos entre 2020 e 2022.

A secretária tem boas expectativas para o futuro da Santa Casa. “A gente está pleiteando esses recursos para a reposição desses gastos junto ao Ministério da Saúde. Com o incremento de teto e mais essa liberação, a gente acredita ter uma trégua em relação à situação da Santa Casa. As perspectivas são muito boas pelo poder político e a receptividade que a gente tem no Ministério da Saúde”, disse.

Eliana também destacou que as cirurgias eletivas são o que mais preocupa no momento. “O que bate à nossa porta todos os dias são as cirurgias eletivas. Os nossos leitos são tomados, 90%, pela urgência e emergência. E a grande urgência e emergência que a gente tem é na área com maior fila para cirurgias, que é a ortopedia”, concluiu a secretária.

 

Transparência

O vereador Edson Hel destaca que a Audiência Pública fortalece a transparência da Santa Casa para com a comunidade. “A audiência leva informações para a população. Diariamente, todos os gabinetes dos vereadores são cobrados pelos munícipes por causa da não realização de cirurgias eletivas. Hoje ficou muito bem esclarecido para a população o motivo para não estarem sendo feitas”, afirmou.

Também estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal, Paulo Landim (PT), o vice-presidente, Aluisio Boi (MDB), o presidente da Comissão de Saúde, Educação e Desenvolvimento Social, vereador Gerson da Farmácia (MDB), a vereadora Fabi Virgílio (PT) e os vereadores Carlão do Joia (Patriota) e Rafael de Angeli (PSDB), além da nova diretora-geral da Santa Casa, Mara Capparelli.

A audiência foi transmitida ao vivo pela TV Câmara de Araraquara e continua disponível para visualização pelo Facebook e pelo YouTube.


Publicado em: 09 de maio de 2023

Cadastre-se e receba notícias em seu email

Categoria: Câmara

Comentários

Adicione seu comentário

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.


Outras Notícias

Fique por dentro

Instalação de sistema de energia solar na UPA Central é sugerida à Prefeitura

15 de outubro de 2025

A realização de estudos para a instalação de um sistema de energia solar fotovoltaica no prédio da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central de Araraquara foi sugerida à Prefeitura por meio da In...



Documento sugere tornar mão única via da Vila Santana

15 de outubro de 2025

Em Indicação encaminhada recentemente à Prefeitura, o vice-presidente da Câmara Municipal, vereador Michel Kary (PL), sugere tornar mão única, com urgência, a Rua Dr. Arlindo Soares de Azevedo, esp...



Propostas aprovadas abrem créditos de mais de R$ 36 milhões no orçamento

14 de outubro de 2025

  Propostas aprovadas na 37ª Sessão Ordinária da atual legislatura da Câmara de Araraquara abrem créditos de mais de R$ 36 milhões no orçamento do Município. O encontro dos vereadores, nesta terça...



Avanços e desafios relacionados à perda gestacional e neonatal são discutidos na Câmara

14 de outubro de 2025

  As “Perspectivas e desafios da Lei Federal de humanização ao luto materno e parental” foram tema de uma mesa-redonda realizada na noite de segunda-feira (13), no Plenário da Câmara. O evento foi...



Escolas municipais mais antigas serão alvo de atenção, afirma Secretaria da Educação

14 de outubro de 2025

Dando prosseguimento ao ciclo de Audiências Públicas da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026, o Plenário da Câmara recebeu mais um debate na tarde de segunda-feira (13). A discussão foi mediada pel...



Manutenção no playground do Centro Esportivo da Vila Melhado é sugerida à Prefeitura

14 de outubro de 2025

A necessidade de reparo e manutenção dos brinquedos instalados do Centro Esportivo “José Maria Melhado”, localizado na Avenida Dr. Adhemar Pereira de Barros, na Vila Melhado, é o tema da Indicação...





Esse site armazena dados (como cookies), o que permite que determinadas funcionalidades (como análises e personalização) funcionem apropriadamente. Clique aqui e saiba mais!